
Banquete Frutológico
de Juliana Hoffmann Bordes
São José dos Pinhais, Paraná
Uma comédia existencial com gosto de suco e cheiro de revolução.
No talk show “Penso, logo desisto”, um peixe apresentador recebe frutas pensantes para discutir os dilemas da existência. A maçã filosofa sobre a inevitabilidade da queda, a banana revela o peso amargo de sua doçura, e a pera aceita a decadência com um sorriso resignado. Mas a apresentadora, cansada da frutodepressão, decide silenciar as vozes frutológicas do absurdo — literalmente.
O que era pra ser um debate profundo se transforma num suco metafísico... até que as frutas contra-atacam.
Quando a filosofia se mistura ao liquidificador da vida, resta uma pergunta: quem realmente está no controle — a razão ou a fruta?

Entrevista
1 - Você pode se apresentar falando sobre sua arte, suas realizações, colaboradores e como se apresenta a cena de cinema independente na região em que você vive.
Me chamo Juliana, tenho 23 anos, sou de Curitiba e trabalho na área de tecnologia.
Sempre tive uma conexão forte com o cinema e as artes visuais. Gosto de criar projetos independentes e compartilhar essas criações com os amigos — sempre guiada pela minha filosofia de “fazer mal feito”, no melhor sentido: experimentar sem medo, criar com liberdade e ter em mente que o resultado final que sai das suas mãos é o melhor que poderia ter sido. É isso que me diverte.
Em 2022, lancei o podcast Sessão da Bruxa, uma maneira de compartilhar os filmes que eu amava e que me ajudaram a alcançar outros espaços criativos. Já em 2024, lancei meu primeiro curta, “Zumbis Vegetarianos do Espaço Sideral”, onde pude experimentar técnicas de animação e colagem, misturando referências e ideias de um jeito bem livre.
Me apresento como metamorfosedasplantas, nome inspirado no livro de Goethe, que me trouxe uma visão mais orgânica e não mecânica — tanto da natureza quanto dos processos artísticos.
2 - Conte-nos como foram as filmagens de seu segmento para o “Tropical SOV”.
O meu segmento é o “Banquete Frutológico”. Quis fazer algo diferente do meu último curta, então resolvi explorar o stop motion e experimentar outras técnicas visuais. Foi um processo bastante livre: gravei as cenas com a câmera do celular e fui montando tudo aos poucos, no meu ritmo.
Durante a produção, compartilhei algumas cenas com amigas que já sabiam do projeto. Em uma dessas trocas, uma delas reagiu dizendo: “E isso que a Juliana nem usa drogas… imagina se usasse!” — caí na risada e, sinceramente, encarei como um ótimo feedback. Senti que estava no caminho certo das coisas que eu gosto de fazer.
3 - Teve algum imprevisto durante as filmagens que você gostaria de nos contar (com todos os detalhes sórdidos, por favor).
A cena da seiva frutológica, que se transforma em uma gosma monstruosa, foi tensa. Tive que fazer algumas cenas daquela massinha ficarem na minha cara e em quase todas ela grudou severamente no meu cabelo. Depois de uma semana lavando, ainda tinha gosma verde grudado nos cabelos (risos).
4 - Seu curta “Zumbis Vegetarianos do Espaço Sideral” é uma animação maravilhosa, eu gostaria que você falasse sobre os processos de animação que usou nele. E também dê dicas para quem quer se iniciar na arte de fazer filmes de animação.
Fiquei muito feliz com a repercussão desse curta. Ele foi criado especialmente para o Arrght! – Festival de Arte Mal Feita, então desde o início me senti livre para experimentar, e isso abriu espaço pra explorar técnicas simples de colagem e animação. Teve de tudo um pouco: giz de cera, canetinha, colagem manual, scanner… um verdadeiro mix de materiais e linguagens que resultou nessa estética. A melhor dica que recebi e que faço questão de passar adiante é: acompanhe o trabalho de artistas independentes, converse, troque ideia, peça ajuda. E, acima de tudo, bote a mão na massa, sozinho ou com alguém. Não existe receita de bolo: o importante é descobrir e fazer por diversão!
5 - Nosso projeto “Tropical SOV” celebra o Shot On Video, que sempre foi uma expressão cinematográfica marginal à produção de cinema oficial e inspirado na filosofia do “Faça Você Mesmo”. Que conselho você gostaria de dar (ou qualquer tipo de ponderação) sobre essa arte tão difícil, mas divertida, de se produzir de maneira independente?Produzir de forma independente é, ao mesmo tempo, um desafio e uma libertação. Você lida com limites o tempo todo, seja de grana, de tempo, de equipamentos, mas é justamente aí que mora a potência. A “falta” das coisas vira estética, o erro vira o charme no final. No resumo eu diria que eu considero esse tipo de expressão a mais autêntica, é aquela que te diz pra não esperar as condições ideais para começar. Use o que você tem, confie nas suas ideias esquisitas, convide amigos pra fazer junto, e, principalmente, se divirta com o processo.
Ficha técnica
Dirigido, escrito, filmado e editado por Juliana Hoffmann Bordes
Trilha sonora: Helen Skorupski Sloboda
Estrelando Juliana Hoffmann Bordes
Filmografia
Zumbis Vegetarianos do Espaço Sideral (Brasil, 2024,1 minuto e 17 segundos)
Banquete frutológico (Brasil , 2025, 3 minutos e 37 segundos)