Entrevista
1 - Você pode se apresentar falando sobre sua arte, suas realizações, colaboradores e como se apresenta a cena de cinema independente na região em que você vive.
Hoje tenho 27 anos. Comecei no meio artístico com a escrita, aos 15 anos. Sempre gostei do mórbido e da arte marginal, e coloquei muito disso na minha escrita. Aos 16 anos comecei a escrever mais histórias e, no mesmo ano, assisti ao filme “Feto Morto” do Fernando Rick junto com minha amiga e parceira na produtora, a Marina. Eu achei genial aquela experiência cinematográfica e passei a me interessar mais por filmes B nacionais.
Depois conheci a Canibal Filmes. E assistindo alguns dos filmes, tive a certeza de que era isso que eu queria fazer — e que não precisava de recursos pra isso. É fazer com o que se tem. A Marina Fibig é minha amiga de longa data e foi com ela que criei a ScarFilmes (hoje não se chama mais assim), produtora que inicialmente tinha três membros, mas acabou ficando apenas eu e a Marina, e continua assim até hoje.
No último curta contamos com a ajuda de amigos: o Matheus, que fez o personagem "Calvo" e também esteve envolvido com outras partes da produção; o Peohny, que interpreta o personagem Eutanásio (que será recorrente em outras histórias); e o Adam Lucas Viana, que foi o responsável pela trilha – que ficou demais. Espero que essa seja uma equipe recorrente nos próximos trabalhos.
Voltando sobre a escrita… tenho um livro que se chama “Coração de Porco”, onde tem vários poemas e contos. Não cheguei a publicá-lo, mas pretendo escolher alguns dos textos para filmar.
E sobre a cena de cinema independente aqui na minha cidade: eu acho bem morta. Sinto falta de ver mais produções no estilo Faça Você Mesmo, que vá além de apenas produções perfeitinhas. Mas acredito que tenha, sim, algumas pessoas que fazem ou querem fazer dessa forma crua, e gostaria de conhecê-los. Aqui eu vejo uma cena forte musicalmente, mas seria incrível começar um movimento com o cinema podreira também.
2 - Conte-nos como foram as filmagens de seu segmento para o “Tropical SOV”.
Comecei a gravação com medo de dar errado, pois tivemos alguns contratempos na pré-produção. Houve a mudança repentina do ator que interpretaria o Eutanásio, que também era quem faria a edição e a trilha sonora. Ele não estava mais disponível. Além disso, o local de gravação seria a casa dessa mesma pessoa. E como tínhamos prazo, pensei que daria tudo errado. Mas, no fim, foi tudo perfeito, do jeito que tinha que ser.
Resolvi uma coisa de cada vez. Chamei o Peohny, que é um amigo, ator e artista incrível, para interpretar o Eutanásio, e ele prontamente aceitou. Pedi para o Adam fazer a trilha e ele também topou. Alugamos uma chácara mais isolada para fazer as filmagens, fizemos alguns testes de sangue falso e prótese de látex, e foi isso.
A gravação ocorreu perfeitamente bem. Levamos um total de 6 horas para gravar tudo, dividido em dois dias. Foi muito divertido cada momento. Ah, e eu estava preocupada pois estava sem editor, então me dediquei a aprender a editar e eu mesma fiquei com a edição do filme.
3 - Teve algum imprevisto durante as filmagens que você gostaria de nos contar (com todos os detalhes sórdidos, por favor).
Não tivemos. Pensei que teríamos algum problema com os animais da chácara, que estavam do outro lado de um cercado e estavam meio irritados com a nossa presença – mijando por perto da gente (risos). E eu não queria incomodá-los. Mas depois de o Peohny começar a dar uns gritos durante as cenas do Eutanásio, eles já foram pra longe.
Teve algumas grimpas das araucárias caindo na gente, mas não ocorreu nenhum acidente (se ocorresse, eu já iria gravar pra usar em alguma cena).
4 - Você e Marina já tinham realizado outras produções antes da criação da Atrofia Produções. Você pode falar sobre eles, sei que alguns materiais filmados nunca foram finalizados também. Vocês pretendem resgatar este material no futuro fazendo aquele exercício de ressignificação das cenas? Este material antigo está disponível na internet?
Sim, já tínhamos feito algumas coisas antes com a ScarFilmes, mas perdemos muito material por pura irresponsabilidade mesmo. O que temos publicado hoje são dois curtas: “Save The Food” e “Atrofia Satanás”, ambos filmados em 2014. O segundo é um segmento do primeiro. Estão disponíveis no YouTube, no antigo canal da ScarFilmes. É uma história alucinada de dois amigos, Mayla e Afredo.
Em 2018, Save the Food foi exibido na Mostra do Filme Livre, dentro do Festival de Chorume. Eu ainda pretendo, sim, unir algumas coisas antigas que ainda temos – talvez até voltar com mais um segmento da história de Mayla e Alfredo, quase 10 anos depois, mas agora com uns gore na história. Também tenho alguns roteiros antigos e quero aproveitar esse conteúdo.
5 - Nosso projeto “Tropical SOV” celebra o Shot On Video, que sempre foi uma expressão cinematográfica marginal à produção de cinema oficial e inspirado na filosofia do “Faça Você Mesmo”. Que conselho você gostaria de dar (ou qualquer tipo de ponderação) sobre essa arte tão difícil, mas divertida, de se produzir de maneira independente?
Meu conselho é: vá e faça como puder. Não deixe nenhuma ideia escapar. Se tiver quem te apoie, melhor ainda. Se não tiver, dá um jeito sozinho. Não espere que alguém vá e faça por você, senão você não sai do lugar (esse foi um erro que levei anos para corrigir).
Não se preocupe com técnica. Pega teu celular, liga a câmera e grave, seja o que for. Se o áudio ficou ruim, duble por cima depois. Se não tem quem faça ou se não sabe fazer trilha sonora, grave qualquer coisa e joga no teu filme – pega panela, galhos, serra elétrica, cortador de grama ou instrumento musical e produza qualquer som aleatório.
Se não tiver ator, atue você mesmo ou faça o mesmo ator interpretar vários personagens. Só não desista.
Making Of
Ficha técnica
Direção e Roteiro: Keisy Yamaki
Produção: Keisy Yamaki e Marina Fibig
Direção de Fotografia e Edição: Keisy Yamaki
Efeitos Práticos Gore: Keisy Yamaki
Desenho de Som e Trilha Sonora: Adam Lucas Viana
Assistente de Direção: Marina Fibig
Estrelando
Matheus Alessandro (Calvo)
Peohny (Eutanásio)
Marina Fibig (Personagem que cai)
Filmado com celular Samsung Galaxy S20FE
Atrofia Produções
Filmografia
Save the Food (Brasil, 2014, 6 min.)
Atrofia Satanás (co-direção com Marina Fibig, Brasil, 2016, 7 min.)
O Método (Brasil, 2025, 4 min.)
À Espreita (Brasil, 2025, 4 min.)