Entrevista

1 - Você pode se apresentar falando sobre sua arte, suas realizações, colaboradores e como se apresenta a cena de cinema independente na região em que você vive.

Me chamo Rebeca Capozzi, sou historiadora de formação e tenho realizado filmes SOV desde 2016, junto de meu companheiro Jorge Tibilletti. Entre 2021 e 2023, assinávamos nossos filmes como nossa produtora, atualmente inativa, Rituel Produções. Os filmes que realizei até agora, quais sejam “Estímulos” (2022), “Oratio” (2021), “Constipação” (2022) e a “Vida em Negativo” (2024), possuem um fio condutor temático mais amplo, que acredito ser a relação entre vida e morte. Também participei de outras filmagens, ora como atriz, ora como roteirista, como “Gore Positive” (2021) e o documentário “A Vida ao Redor do Cemitério” (2022). A liberdade de produzir filmes caseiros e independentes me possibilita explorar de forma totalmente livre esse grande eixo temático – e seus subeixos. Tal liberdade criativa me ajuda a lidar com minha própria vida, além de voltar para meu ofício, que demanda uma certa formalidade estrutural e linguística, mais inspirada.

Sou paulistana, mas atualmente moro em Curitiba (PR). Existe uma efervescência SOV no Paraná, de maneira mais ampla. Anualmente, o festival Djanho de Curitiba celebra o cinema de horror, abrindo espaço para filmes independentes. Apesar disso, confesso que não há muitas outras iniciativas para o incentivo à exibição de filmes SOV na cidade.

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2 - Conte-nos como foram as filmagens de seu segmento para o “Tropical SOV”.

Meu segmento do filme “Tropical SOV”, intitulado “A Vingança dos Neonatos”, foi realizado a partir da seleção de imagens de arquivo, coletadas na biblioteca digital da Wellcome Collection. Os efeitos que usei, como a sobreposição de vídeos e texturas, foram pensados e executados para simular o assassinato dos progenitores dos neonatos. O filme foi pensado para ter um aspecto mais visceral e pessimista. Por isso, as citações textuais do filósofo romeno Emil Cioran indicam, no início e no final do segmento, o “tom” do filme. A trilha sonora utilizada no segmento foi retirada do projeto de Raw Black Metal, “Coveirö”, de Jorge Tibilletti.

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3 - Teve algum imprevisto durante as filmagens que você gostaria de nos contar (com todos os detalhes sórdidos, por favor).

Ao longo da montagem do filme, não tive nenhum imprevisto, infelizmente (risos). A escolha em trabalhar com imagens de arquivo, apesar de muito fascinante para mim, também acaba por limitar certas experiências incríveis do processo de filmagem.

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4 - Você também teve algumas experiências produzindo em Super 8, eu gostaria que você falasse sobre essas produções, custos delas, os processos técnicos da revelação e montagem em película.

Nos anos de 2022 e 2024, participei da realização e filmagem de dois filmes produzidos em Super 8. Os filmes “Constipação” (2022) e “A vida em Negativo” (2024) foram resultantes das oficinas Tomada Única, oferecidas em Curitiba pelo Curta 8. As oficinas explicam sobre a história do cinema, ressaltando a relevância das câmeras Super 8, além de distribuírem algumas Super 8 e um filme de 3 minutos para cada participante. No final, cada um grava o seu filme, que depois é exibido publicamente. O detalhe é que todos assistem juntos pela primeira vez ao seu filme.

A experiência de filmar em tomada única com uma Super 8 e não saber como o filme vai ficar (dá muito medo de não filmar nada) é incrível!!! Diria até que é meio viciante. O processo é bastante diferente de uma filmagem com uma câmera mais moderna, ou até um celular, já que nesses casos você pode gravar fora da ordem, gravar quantas vezes quiser etc. No caso da Super 8 não. Você acaba aprendendo, aos poucos, sobre o que dá certo, ou não, nesse tipo de filmagem com o tempo. Por exemplo, se a película for colorida, quanto mais luz, melhor. Se for preta e branca, tem que tomar muito cuidado para não ficar superexposta e simplesmente ficar tudo branco. Minha vontade é continuar gravando outros filmes em Super 8. Espero que a oficina Tomada Única continue existindo por muitos e muitos anos!

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5 - Nosso projeto “Tropical SOV” celebra o Shot On Video, que sempre foi uma expressão cinematográfica marginal à produção de cinema oficial e inspirado na filosofia do “Faça Você Mesmo”. Que conselho você gostaria de dar (ou qualquer tipo de ponderação) sobre essa arte tão difícil, mas divertida, de se produzir de maneira independente?

É difícil pensar em algum conselho, já que, como eu disse, é uma expressão muito livre. Mas acho que tenho algumas coisas importantes para ressaltar. Primeiro: se divirta! Claro que, na maioria dos casos, é meio impossível você não se estressar com alguma coisa no processo de gravação, mesmo assim, aproveite o momento para colocar a diversão em prática (seja lá o que isso significa para você). Segundo, aproveite seus colegas, familiares, amigos e qualquer pessoa que tope trabalhar com você no seu filme. Isso ajuda muito no processo de gravação e na organização das filmagens. Por último, diria que, apesar de não ser exatamente necessário fazer uma organização prévia para realizar um SOV, é sempre bom se organizar minimamente, tanto para planejar a gravação em si, quanto para a pré e a pós-produção. Isso vai fazer muita diferença no resultado, tanto no momento da montagem e edição, quanto antes, quando você tiver esboçando a história que quer contar.

Ficha técnica

Direção, roteiro e edição:  Rebeca Capozzi

Trilha sonora: Coveirö

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Rituel Produções

Filmografia

Oratio (Brasil, 2021, 2 min.)

Estímulos (Brasil, 2022, 22 min.)

Constipação (Brasil, 2022, 3 min.)

A vida em Negativo (Brasil, 2024, 3 min.)