Entrevista

1 - Você pode se apresentar falando sobre sua arte, suas realizações, colaboradores e como se apresenta a cena de cinema independente na região em que você vive.
Sou gaúcho. Nascido em Cachoeira do Sul. Faço filmes e sou o curador do cineclube Coliseu. Comecei a fazer filmes na pré-adolescência, tendo meus irmãos e amigos como elenco, e assim segue sendo até hoje. Alguns dos meus filmes são “A Criação de Frankenstein”, “A Profecia dos Mortos”, “Olhos Atentos”, “Venha ver o Pôr-do-Sol”, “O Último Templo dos Sonhos”, “A Colheita dos Mortos”, “O Silêncio nos Corredores” e “Bloqueio”.
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2 - Conte-nos como foram as filmagens de seu segmento para o “Tropical SOV”.
“A Maldição do Vídeo” foi gravado durante uma noite de sábado. O cenário visto em cena é minha própria casa, que já serviu de locação para outros dos meus filmes. A ideia era fazer um segmento com a essência dos filmes de terror que eu via sexta/sábado de noite, na casa da minha avó, quando era criança. Obras essas que alugávamos nas locadoras da cidade. Também era a intenção prestar uma homenagem ao DVD, esse formato que me acompanhou durante a infância inteira.
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3 - Teve algum imprevisto durante as filmagens que você gostaria de nos contar (com todos os detalhes sórdidos, por favor).
Enquanto filmávamos uma cena, o efeito da fumaça saiu do nosso controle. Foram mais de nove takes longos, gravados consecutivamente, com o quarto inteiramente fechado. A máquina de fumaça deu conta de encher o cômodo inteiro, nos obrigando a abrir a casa, pois ficou insuportável permanecer com ela fechada. Ao fazer isso, uma grande quantidade de fumaça saiu pela porta e janelas, gerando uma nuvem envolta da casa, fazendo com que os cachorros da rua se agitassem, começando a latir desesperadamente e os vizinhos, que aproveitam a noite de sábado, tomando um chimarrão na calçada, vieram no portão de casa ver o que estava acontecendo. Assim, fazendo com que eu tivesse que explicar que tudo estava em ordem, eu e meus irmãos estávamos bem e que estávamos gravando um filme. Esse tumulto resultou no atraso no término da filmagem, que terminou às duas horas da manhã.
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4 - Eu gostaria que você falasse um pouco sobre a ajuda que recebe de seus irmãos. E, também, que contasse como foi a adaptação de “Frankenstein”, que vocês lançaram em 2024 e foi um dos longa metragens mais bacanas que vi no cinema brasileiro independente.
Meu primeiro — e até agora único – longa-metragem foi: “A Criação de Frankenstein”, uma adaptação brasileira/gaúcha do livro de Mary Shelley. Gravado e editado com um celular simples da LG, nenhum orçamento e muito esforço. Nos reuníamos para gravar durante os finais de semana, nos feriados e qualquer momentos que eu não estivesse na escola ou no trabalho. Assumi todas as áreas técnicas do filme, enquanto o elenco, foi assumido pelos meus irmãos e amigos. Ana Julia Loreto, minha irmã, deu vida para a cientista Frankenstein, inspirada no livro e em um montante de filmes que fui exibindo no cineclube, servindo de laboratório para ela criar a personagem. Meu irmão, João Victor Loreto, ficou responsável em ser a criatura. Nosso objetivo era que ele falasse com os olhos, atuasse usando o silêncio ao seu favor. A principal referência dele foi o Edward Mãos de Tesoura e Charlie Chaplin.      Começamos a filmar em 2020 e só fomos ver o filme pronto em abril de 2023. Depois de uma série de complicações, como por exemplo, o celular ter sido roubado em Porto Alegre, com mais de 50 minutos do filme gravado, sem estar editado e nem salvo na nuvem. Gerando um atraso de meses na produção, pois foi preciso que eu conseguisse outro celular e depois, juntasse o pessoal para regravar o material perdido. Felizmente, regravamos o necessário e o filme foi concluído. Em junho do mesmo ano, ele foi lançado no cinema da nossa cidade, com três sessões lotadas!
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5 - Nosso projeto “Tropical SOV” celebra o Shot On Video, que sempre foi uma expressão cinematográfica marginal à produção de cinema oficial e inspirado na filosofia do “Faça Você Mesmo”. Que conselho você gostaria de dar (ou qualquer tipo de ponderação) sobre essa arte tão difícil, mas divertida, de se produzir de maneira independente?
Uma vez eu ouvi que um filme, enquanto está sendo produzido, só tem uma única obrigação com seu diretor e equipe: “Ser divertido de ser feito!”, Marcos Kligman me falou isso, em uma das vezes que trabalhamos juntos, e tornou-se uma frase que vou levar comigo para sempre. Faço filmes desde os onze anos de idade, errando e acertando – na verdade, creio que muito mais errando – e durante esse tempo todo, lembro de me divertir durante todo o processo. A vontade de contar histórias costuma me motivar e emocionar profundamente. Assim, acho que fazer cinema tem uma relação direta com o lado mais lírico do seu realizador. Quando estou fazendo um filme, me sinto voltando a ser o mesmo guri de onze anos, que pegava o celular da mãe emprestado para gravar curtas e tinha meus irmãos, amigos e primos como elenco. Acho que, no fundo, nunca vou deixar de ser esse guri. Que se apaixonou pelo cinema e que, até hoje, faz filmes. Ah, e que se diverte muito enquanto faz!

Ficha técnica

Direção, Roteiro, Produção, Fotografia, Edição: Pedro Henrique Loreto

Direção de arte: Evelin da Rosa Thomaz e Pedro Henrique Loreto

Elenco:

Ana Julia Loreto (Isa)

Bianca dos Santos (Sofia)

João Victor Loreto (Arthur)

Pedro Henrique Loreto (Homem do vídeo)

Mayara Dornelles (Moça do filme)

Rafael Marques (Homem do filme)

Gravado com celular LG K51S

LUP Filmes

Filmografia